quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
O RUÍDO DO SILENCIO
É verdade, no silêncio cresce o ruído, descem as esteiras da Lua,
naufragando nas ondas inquietas de um mar sinistro,
cheias de espumas e cabeças de areia,
colhendo palavras de uma praia adormecida.
Um órgão de algas interpreta as sereias,
enquanto a noite perturba o pranto insone,
das rochas afogadas de penumbras.
O cheiro a peles associa a sentença do esquecimento,
e a loucura domina a insensatez dos ventos despenteando os salgueiros.
Não te cales então, que no silêncio é mais violento o ruído,
e se escutam pensamentos que negamos,
realidades que mentimos, na alegria da luta por saber que estamos vivos.
Não detenhas os relógios dos meus montes,
não adormeças os duendes da ventura, deixa-os que saltem,
pelos outonos cinzentos, com aroma de alecrim e de jarilla.
Livre das filosóficas águas que emergem das pedras,
livre da liberdade que nos ata a cada dia.
A vida, meu amor, é um silêncio longo que grita a cada instante,
um suicídio do presente em armas de nostalgia
e a lembrança do futuro que entre dores e esperanças se pressente.
Aonde vais se partes? sempre o eco irá contigo;
sempre fugindo das vozes, seguirás sendo… palavra e grito.
Que me deixarás se te afastas,
deste espaço atemporal entre sórdidos caminhos?
Que levarás nas malas, ou em teus bolsos de fumaça e de sons?
Volta a pulsar como antes de ser metal !
submerge-te em minhas forjas de ventos desordenados
deixa-me moldar-te entre o bronze e o aço,
dos poucos sonhos que ainda me restam.
Não te vás na busca do nada que já tens,
segue afugentando os silêncios que explodem na vida.
Dá aos crepúsculos a tua voz desenhada entre algodões e arlequins.
Canta uma rima passageira, entoa a tua injúria e a tua desdita.
Não me deixes aqui, sozinho, imaginando na fonte ,
o murmúrio das águas, que caem comentando sua alegria.
O rugido dos homens quando têm sob seus pés,
a presa que dominam com o fuzil de suas cobiças.
É verdade,
o ruído faz mais ruído, quando o silêncio é mais silêncio,
e se estremecem os tímpanos da mente,
despedindo na sua agonia a corda de um violão
desgarrada em uma esquina do quarto.
As teclas de um piano umedecidas de abandono,
um concerto de pássaros , um coro de querubins,
e um rouxinol bêbado, dormindo caladamente nos quartos da alma.-
Não te cales!, meu amor,
deixa que tua voz acaricie a espécie e o planeta.
Os pombos devem seguir batendo suas asas de miragens,
em meus ninhos de ervas e de barro.
WALTER FAILA
Argentina
Tradução: Maria Lua
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Un placer leerte
UN ABRAZO GIGANTE
BESOTES
JEM WONG
Um belo poema, querido Walter...
Beijos, com carinho
Maria Lua
Postar um comentário